plural

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner

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  • Da série "não existe racismo no Brasil"
    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

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    Todos os dias, visualizamos cenas do racismo cotidiano manifestado nas instituições, nas relações interpessoais e em uma sociedade tão desigual. Vivemos em um país historicamente marcado pelo racismo estrutural, através de mais de três séculos de regime econômico, político e social baseado no trabalho escravo. Séculos de trabalho de um povo que foi capturado de África, que gerou riqueza e construiu a nação com sua cultura, alimento, língua e religiosidade, dentre outras manifestações da vida em sociedade e que vive em situações análogas ao período escravocrata até hoje.

    A coluna da semana versa sobre o programa de uma grande rede do ramo varejista, com a criação de um processo seletivo exclusivo para negras e negros e como tal política desinquieta um país racista que não se reconhece enquanto tal.

    Séculos de desigualdade entre negros e brancos neste território para uma parcela da população não é um problema , até porque, as famílias escravocratas "senhores de engenho" e seus descendentes usufruem do acúmulo de riquezas gerado com o suor e trabalho alheio. Mas isso não gera desconforto. Por que será? Será que vivemos em um país de oportunidade, independentemente da raça? Infelizmente, não.

    Processos seletivos também refletem o racismo estrutural do Brasil. Em uma sociedade desigual, onde o belo, o que tem capacidade intelectual e moral está relacionada a construção do ser branco. Uma das minhas inquietações é a seguinte: o que significa aquela vaga que exige boa aparência nos anúncios de emprego? Está direcionada para quem?

     Uma grande parcela dos processos seletivos no Brasil tem público direcionado, só não é escrito: "ESSA VAGA É PARA BRANCOS". Vou dar um relato pessoal. Antes de ter minha formação acadêmica, da graduação ao doutorado, fiz um curso tecnólogo em administração de empresas. Meus primeiros trabalhos foram na área dos serviços: caixa de supermercado, e, logo após, trabalhos na área da formação técnica. Fiz uma seleção que me chamou muita a atenção e, desde então, faço esse registro: cinco mulheres concorrendo a uma vaga de auxiliar administrativo em uma empresa do ramo imobiliário. Entre elas, eu. Meu currículo acadêmico era destacado entre as demais, tive o melhor desempenho individual e em grupo, tinha maior experiência comprovada. Mas quem ficou com a vaga? A menina branca sem escolarização e experiência. Alguém poderia me explicar essa situação fora do contexto de uma sociedade marcadamente racista, na qual nossas instituições estão inseridas e reproduzem essa lógica perversa?

    O desconforto gerado pela seleção direcionado ao público negro significa que temos muito o que avançar. O processo exclusivo visa reparar desigualdades históricas e combater os efeitos acumulados de discriminações ao longo de séculos. Saúdo a iniciativa da empresa, pois é uma ação voltada a uma reparação das desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro. Em um país de maioria negra/parda,segundo dados do IBGE, ocupamos somente 30% dos postos de chefia e estamos em postos de trabalhos precarizados e pouco valorizamos desde o ponto de vista econômico. As inquietações servem também para nossa reflexão! Conhecer a história e trajetória do Brasil é um processo necessário para que possamos identificar as desigualdades produzidas pelo racismo. E com base em tais evidências, que possamos ter ações na perspectiva de uma sociedade mais justa e igualitária.


    A corrida dos ratos
    Silvana Maldaner
    Editora de revista

    style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Muitas pessoas falam que as grandes guerras e as catástrofes são sinais para que a humanidade desperte e evolua espiritualmente. Para cada ciclo um aprendizado. A peste bubônica também conhecida como peste negra foi a pandemia mais devastadora registrada na história humana, tendo resultado na morte de 75 a 200 milhões de pessoas atingindo o pico na Europa entre os anos de 1347 e 1351. Acredita-se que a bactéria, que resultou em várias formas de peste septicémica, pneumónica e, a mais comum, bubônica, tenha sido a causa.

    A Peste Negra teve a sua origem na Ásia de onde viajou ao longo da rota da seda. De lá, era provavelmente transportada por pulgas que viviam nos ratos que viajavam em navios mercantes, espalhando-se por toda a bacia do Mediterrâneo, atingindo o resto da Europa através da península italiana. Estima-se que a Peste Negra tenha matado entre 30% a 60% da população da Europa.

    IGNORÂNCIA MATA

    Hoje, vivemos uma pandemia oriunda da Ásia, com o mesmo foco de disseminação, com a porta de entrada novamente na Itália e com o mundo todo parado perplexo, numa guerra silenciosa que mata aos poucos.

    Morre todos os dias a coragem. Morre a alegria. Morre os abraços apertados e a família reunida. Morre todos os dias a capacidade de refletir e pensar. Morre todos os dias o livre arbítrio e a liberdade. Morre todos os dias o sentimento de que as pessoas vão evoluir com esta pandemia. Morre todos os dias a lucidez.

    Tenho muito medo deste emburrecimento coletivo. As pessoas agindo como ratos, sendo cobaias de experimentos, de manipulações e acima de tudo não refletindo sobre o que de fato está sendo decidido. Seguimos leis estúpidas, obedecemos regras e decretos feitos por sujeitos incompetentes e repetimos o mantra do fique em casa.

    Conforme declaração de diversos especialistas da sociedade médica a redução das consultas, exames preventivos e cirurgias eletivas de doenças graves, como por exemplo, câncer, AVC, diabetes, obesidades, problemas cardíacos e respiratórios foi de 70%. Isto significa que estes pacientes chegarão nos hospitais com as doenças já mais evoluídas e em estados mais graves. Outro dado assustador é que a grande maioria dos óbitos ocasionados ao covid estão relacionados justamente com estas doenças que matam e continuarão matando, com a diferença que com o contato com o vírus acentua e multiplica a estatística tão destacada e superfaturada na história.

    A ignorância vai matar mais que a Covid-19.


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